A aposta entre a lebre e as tartarugas já havia sido feita, e ainda decorriam os preparativos para a corrida.
Mas os animais estavam preocupados com a preparação física da sua amiga lebre, e perguntaram-lhe:
“Ó lebre, não achas que se calhar facilitaste um bocadinho na tua preparação física. Será que estás mesmo preparada para conseguir ganhar às tartarugas?”
E a lebre estupefacta pela inesperada falta de confiança, respondeu muito indignada e convicta da sua superioridade:
“Tenham calma, que eu também tenho. Estou muito bem, melhor do que no do ano passado e tenho um potencial tremendo. E, ao contrário do que se diz, a minha preparação foi coerente e foi bem planeada.”
Entretanto, a corrida lá começou, e as tartarugas arrancaram na sua passada lenta, com as suas patinhas tão curtas. Andavam devagar, mas sempre seguido, sempre sem parar.
E os animais, cada vez mais preocupados, vendo as tartarugas já longe e a lebre tão descansada à sombra da árvore, voltaram a avisá-la:
“Ó lebre, as tartarugas já arrancaram e tu ainda estás a descansar. Olha que se não te despachas, ainda vais perder a corrida. Se calhar a tua preparação física não é assim tão boa como pensas.”
E a lebre, sorrindo condescendente, retorquiu:
“A minha preparação física tem todo o meu aval e não há qualquer possibilidade de eu me libertar das responsabilidades, boas ou más, no seu planeamento. Não fui eu que planeei a preparação, mas ela teve todo o meu aval. Eu sempre dou opiniões sobre o que me parece ser a melhor preparação.”
E os animais disseram-lhe:
“Ou então, amiga lebre, é o teu preparador físico que não era bem aquele que tu querias.”
E a lebre respondeu já algo impaciente:
“A contratação do preparador físico teve o meu aval. Não se pode dizer que ele está cá contra a minha vontade. Tenho o preparador que foi possível ter e estou satisfeito com o que tenho.”
Mas esta calma da lebre desesperava os animais seus amigos, que cada vez viam as tartarugas mais longe. E na iminência do desastre, quase lhe imploraram:
“Ó lebre, mas como é que tu estás tão descansada? A distância já é tão grande. Tu não vais ter tempo de recuperar o avanço que lhes estás a dar…”
E mais uma vez a lebre, irradiando confiança, sorriu e disse:
“Estejam descansados! Vejamos se eu vos consigo explicar… A minha preparação física deste ano dá-me uma confiança enorme. Ela permite-me correr de duas ou três maneiras diferentes, e assim eu posso vencer as tartarugas da maneira que entender.”
E acrescentou:
“Embora ainda esteja aqui parada, o certo é que cada vez me sinto com mais força. A minha forma melhora a cada minuto que passa. Sinto-me com um potencial enorme. Acreditem em mim!…”
A esta altura, já as primeiras tartarugas se aproximavam da meta, e a lebre continuava deitada, descansando e sorrindo confiante.
E os animais, angustiados, sofriam impotentes, perante a atitude tão displicente da sua amiga lebre…
Eu não sei como vai terminar esta versão da fábula da “lebre e da tartaruga”, mas não vejo forma de Manuel Cajuda conseguir encontrar um desfecho diferente daquele que Esopo escreveu na sua história original…
Para nosso desespero… os animais seus amigos.
José Rialto
4 remate(s):
Os meus parabéns ao Miguel Salazar pelo cartoon fantástico e ao José Rialto pela estupenda fábulo. Sinceramente também espero que a história não acabe como tememos e que a lebre acorde a tempo e regresse à labuta com a humildade e vontade que a fizeram ser ganhadora num passado recente.
como o cajuda costuma dizer as derrotas dao-nos mais força.
Na verdade, esta é a segunda vez que eu uso a fábula da lebre e da tartaruga para fazer um cartoon sobre o futebol do Vitória.
E este facto não poderá nunca ser um bom sinal para a carreira da equipa.
O primeiro cartoon tinha o João Alves como treinador (e lebre) e remonta a Abril de 1991. Estávamos na época de 1990/91, e nessa altura o Vitória apenas conseguiu assegurar a permanência na então 1ª Divisão… na penúltima jornada.
Por favor, tirem-nos desse filme!
Miguel Salazar
Dois pormenores na identificação das tartarugas
Uma é do sporting, e a do Leixões não aparece.
sinais dos tempos...