Paixão Vitoriana
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O caso do "Goal-Average"

Colocado por WhiteShadow a 23 de janeiro de 2009

Nem me vou dar ao trabalho de descrever todo o imbróglio criado em torno da Taça da Liga e do seu regulamento que faz uso do termo inglês goal-average. Mas queria aqui deixar a minha posição bem expressa:

Ponto Prévio: A liga errou ao usar o termo.
Tudo teria sido descomplicado e "normal" se a liga tivesse escrito o normal "maior diferença de golos" em vez do termo anglo-saxónico usado. Algum "espertalhão" quis ser melhor do que os outros e acabou por provocar tudo isto. Com certeza que para o ano o regulamento deve ser escrito de forma mais correcta mas isso não implica que este ano se possa fazer algo tão absurdo e injusto (para mim) como afastar o Vitória do seu legítimo lugar nas meias-finais.

1) É cínico e falso quem disser que nunca viu usado o termo goal-average para designar a diferença de golos. Quando a expressão é usada, na actualidade, tem o significado comum de diferença de golos.
São múltiplas as referências, não só em Portugal, como em todo o mundo. Exemplificando de modo claro, aqui ficam ligações a comprovar isso. Começo logo pela FIFA ([1], [2]) - sim, meus caros, a Fifa! - e pela UEFA ([3],[4]). Em Portugal, pela Bola [5], Jogo [6], Record [7], MaisFutebol [8], Público [10] ou JN [11]. Em Espanha por El Mundo [12], Mundo Deportivo [13] ou Sport [14]. Em França no L'Equipe [15], e poderia continuar com exemplos por todo o mundo. Já sei que agora não faltam paladinos a dizer que sempre souberam que significava outra coisa, mas todos, mesmo todos, quando ouvem esta expressão hoje em dia pensam na diferença de golos. Inclusive o agora "ofendido" Belenenses, quando publicamente atribuiu (link corrigido graças a uma dica) a sua não passagem ao golo invalidado na Luz e durante dois dias nem sequer lhe passou pela cabeça dar outro significado à expressão, até a blogosfera (Briosa e António Boronha) ter levantado a questão. E muitos regulamentos de torneios por esse mundo foram usam também essa expressão nos regulamentos, como este, este ou este. Até a A.F.Porto usa o termo nos regulamentos!

2) Se quiserem interpretar à letra, "Goal-Average" significa somente "média de golos" e não o quociente ou rácio entre os golos marcados e sofridos.
Se vamos ser então tão minuciosos e esquecer o espírito da lei (já falarei disso mais adiante) então temos de pensar no significado textual de goal-average, que é tão somente média de golos. Mas que tipo de média? Média de golos marcados, como por exemplo é usado aqui num regulamento de uma competição? Ou seria média de golos sofridos? Ou seria média de diferença de golos? Ou seria como aqui? São muitas as interpretações possíveis. Porque é que haveríamos de tomar como oficial algo que matematicamente é chamado de "ratio" (ou rácio)? Têm dúvidas? Vejam a definição num dicionário inglês: "ratio - the relation between two similar magnitudes with respect to the number of times the first contains the second: the ratio of 5 to 2, written 5:2 or 5/2.". Tanto que quando se usa isto num desporto, como por exemplo no voleibol, se designa de... "set ratio"! Podem dizer que no passado esse termo era de "entendimento comum" como o tal rácio. Mas apenas como entendimento comum (tal como agora significa outra coisa nesse mesmo entendimento comum)! Com certeza que se aparecesse num regulamento tão sério e bem escrito como agora querem que este seja, teria de explicar como era calculada essa média, sob pena de alguém o protestar. É tão diferente "average" de "difference" como "average" de "ratio"! E já nem vou sequer falar de como a definição pretendida pelos de Belém se aplicaria caso o número de golos sofridos fosse zero. É que uma divisão por zero é matematicamente indefinida, é um "erro", uma excepção. Sim, à medida que um número se aproxima de zero, a divisão de outro por este aproxima-se ou tende para infinito. Mas quando se divide mesmo por zero, não se pode dizer que o resultado é "infinito" mas sim indefinido. Claro que neste caso os de Belém devem dizer que se usa... o entendimento comum!

3) O espírito da lei interessa sim e deve ser tomado em linha de conta juridicamente.
Diz o artigo 9º do código civil, sobre a interpretação de leis: "1 - A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir de textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada. 2 - Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso.". Ou seja, não podemos querer ler apenas textualmente e ignorar todo o contexto, ignorando a intenção do legislador e a maneira como se harmoniza com o resto do regulamento. É claro que o legislador queria indicar diferença de golos (como de resto já o fez notar em comunicado) e é claro que é isso que se harmoniza com o resto do regulamento. Olhando para o segundo ponto, e pensando no que disse acima sobre o uso da expressão hoje em dia, é para mim claro que este é um caso onde o conceito apenas está "imperfeitamente expresso". Mas a intenção, a vontade do legislador, é clara! Queria expressar-se a diferença de golos.

Já falei muito e ainda mais poderia dizer, mas eu não tenho dúvidas de quem eu acho que deve passar: o Vitória! Nada me espanta no entanto no mundo do futebol e estou preparado para tudo em termos psicológicos. Afinal, o Belenenses é o rei dos casos na secretaria, e contra eles, como muitos vitorianos se lembrarão, até tivemos uma vez um jogo repetido (!!) por um suposto erro "técnico" do árbitro (uma expulsão supostamente "indevida" do guarda-redes deles). Tínhamos ganho o jogo e acabamos por perder depois na repetição. Foi na altura uma atitude inédita e sem precedentes passados... ou futuros.

8 remate(s):

Vimaranes disse...

Boa análise whiteshadow. Acho que estará aqui uma excelente defesa para o Vitória, caso tenha necessidade de a usar na sequência de uma decisão sem precedentes, como seria a exclusão do Vitória da Taça da Liga.

Anônimo disse...

Excelente trabalho de investigação expresso num belo texto.

Parabéns e obrigado.

Rimeri disse...

Nunca tive dúvidas da razão que nos assiste, mas depois da leitura deste teu texto fiquei convencido que os dirigentes do belem e esse noronha são uns completos ignorantes. O problema do noronha todos sabem qual é.

Anônimo disse...

Parabéns Pedro, por conseguires ser tão claro.
Penso exactamente o mesmo que tu.
Neste brilhante post consegues mostrar que tanto o senso comum, como a "letra" da lei ~dão razão ao Vitória.
Infelizmente há muitos "iluminados" que não têm abertura de espírito para compreenderem a tua argumentação

ric_fer disse...

excelente trabalho e ainda acrescento

amigos, mostrem-me a formula do goal average é igual a (golos marcados/sofridos), imposta para pela FIFA, UEFA, FPF, ou então para o torneio.

Vá lá procurem. Juridicamente simplesmente ela não existe, a palavra goal average tem sido sistematicamente usada e abusada até pelos senhores da FIFA e UEFA para se referirem a goal diferencial. Mas voltando ao goal average, esta média é feita como? eu apresento varias formulas possíveis, para quem percebe algo de matemática.
média de golos por jogo, (golos marcados / jogos efectuados)
media do proveito de golos por jogo ( (marcados-sofrido)/nº de jogos)
etc etc, são varias formas possíveis de se fazer médias. o golos marcador/sofridos matematicamente falando é um rácio, um rácio que não tem cabimento porque há a possibilidade de haver um nulo em qualquer dos lados, ou seja, tenha marcado 0 golos ou sofrido o mesmo o resultado final será sempre o mesmo. Imaginem uma situação, as equipas com os mesmo pontos, uma ganhou um jogo por 3-0, ficou com 3 pontos, a outro empatou 3 jogos a 0, ou até se o torneio tiver 4 jogos uma equipa empata 3 jogos faz 3 pontos e perde um jogo por 4-0, se fizerem a conta, dá um resultado impossível assim como aquela que ganhou 1 jogo e marcou golos.

Esta formula que insistem em defender não tem qualquer lógica acima de tudo.

cparis disse...

Respondi aqui. Seria extenso faze-lo na caixa de comentários.

WhiteShadow disse...

Primeiro, não sou nem quero conhecer o Vimaranes, pessoa que conheço bem e tem um blogue de nome homónimo. O meu nome é Pedro Ribeiro e costumo escrever com a alcunha de WhiteShadow.

Segundo, tens aí referências (e posso colocar mais) de como a expressão "goal-average" é também usada hoje em dia, por nativos da língua, com o significado de diferença de golos. E não é uns "quantos jornalistas". É o site da UEFA, o site da FIFA e referências jornalísticas mundiais como o L'Equipe. Até o Boronha, na sua ânsia de tentar provar o seu ponto de vista arranjou um relatório da FIFA onde é usada a expressão goal-average relativa ao mundial de 1970, que foi o primeiro onde foi usada... a diferença de golos. Ou seja, referem-se à diferença de golos como goal-average.

Terceiro, escusas de arranjar referências a como no passado foi usado o critério do rácio. Eu sei e tu sabes que foi usado. Gastar tempo a dizer que isso aconteceu no passado é perder tempo e fugir ao âmago da minha argumentação. Nunca isso foi colocado em causa. A questão é o uso da expressão "goal-average" na actualidade. Mostra-me um regulamento oficial de hoje em dia onde seja usado com o significado de rácio sem mais nenhuma explicação. Um regulamento do presente, repito. Mostra-me um regulamento oficial onde se prove, sem dúvidas e de modo oficial, o significado de rácio que queres para goal average. Ou não terá sido a expressão somente uma abreviatura usada na altura para um método de desempate? Mas onde as regras tinham de ser todas explicadas? "Per se", a expressão não significa rácio, e interpretar dessa maneira é tão abusivo como interpretar como diferença de golos, repito.

Quarto, os exemplos que dei mais do que provam do uso da expressão para significar diferença de golos (incluíndo os nativos da linguagem). Mas nem que só tivesse este significado em português, era relavante. E muitas expressões inicialmente estrangeiros ganham significado no português e passam a ser usadas. Daí que até no ciberdúvidas, por exemplo, se fale na questão do goal average, muitas antes desta polémica se instalar. Sendo assim, é claro para mim o que quem fez o regulamento queria dizer diferença de golos. Não colocou o termo formalmente mais correcto, sem dúvida, usou um termo "imperfeitamente expresso", mas não há, para mim repito, dúvidas quanto ao facto de querer representar diferença de golos. E todos, incluíndo o Belenenses, interpretaram dessa forma até a blogosfera ter levantado a dúvida. Portanto, não não é contra a letra da lei interpretar como diferença de golos.

Quinto, numa coisa concordamos, o regulamento deve ser feito por alguém que saiba o que está a fazer. Agora querer retirar a passagem moralmente justa (e para mim judicialmente correcta) do meu Vitória às meias-finais como "side-effect" de um ataque à Liga não posso aceitar. É óbvio que defendo a minha dama e para mim o meu artigo não deixa dúvidas e esta reposta não contraria de todo os meus argumentos.

Veremos o que decide o novo CJ.

PS - Parabéns pela vitória de Domingo frente a um Vitória que este ano está muitos furos abaixo da bitola do ano passado.

Unknown disse...

Caro Whiteshadow,

Embora ache que o Belenenses tem razão, acho também que isso passa para 2º plano (logo vemos o que o CJ decide) e porquê? Por 2 motivos, primeiro porque antes deste aconteceram outros 2 casos(pelos menos mais recentemente) no futebol português (por coincidência envolveram o Belenenses) e em ambos o que originou os casos foi o mesmo motivo deste... incompetência dos dirigentes da liga/FPF.
Foi o caso Mateus que na liga ninguém sabia que o jogador não podia ser inscrito, foi o caso Meyong que na liga também ninguém sabia que não podia ser inscrito e foi agora este caso que um iluminado escreve uma coisa a pensar noutra (se fosse um de nós a fazer isso ainda era tolerável, agora quem foi bem pago...). E andamos nós aqui a esgrimir argumentos (por sinal bem melhor fundamentados do que o comunicado da liga) sobre quem deve passar, e os senhores da liga continuam impávidos e serenos a fazer mais regulamentos.
O segundo motivo, tem a ver com o próprio Belenenses, então fizemos tanto alvoroço com este caso (e acho que bem), e depois não aproveitámos a "boleia" do Sporting e do Braga quando vieram para a raça pública criticar a arbitragem? Nós que tinhamos acabados de ser prejudicados contra o benfica, tinhamos que nos ter juntado ao protesto com o qual concordo pois a arbitragem portuguesa é uma vergonha... quer dizer depois de ver a competência dos dirigentes acho que estão em sintonia.
Um abraço,
Nuno Oliveira