Paixão Vitoriana
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Crónica da conquista de um título nacional

Colocado por WhiteShadow a 20 de abril de 2008

Como conseguir descrever todo o vendaval de emoções que se abate sobre um vitoriano quando pode ver ao vivo pela primeira vez na sua vida o seu emblema ser campeão nacional ao mais alto nível de uma modalidade sénior? É complicado! Sobram as recordações, o palpitar do coração, a riqueza da alma que se enche de alegria e faltam as palavras. Poder gritar com todas as letras, com toda a garra, com toda a potência da voz até ficar rouco: Campeões! Campeões! Nós somos campeões!

Desde o final do quarto jogo que tinha decidido que não podia faltar a este jogo. O coração enchia-se de uma imensa esperança enquanto a mente tentava controlar e dizer para as expectativas serem baixas, para pensar no pior para depois não ficar desiludido. Mas o coração manda, e tanta era a ânsia pelo dia da grande decisão que os dias pareciam não passar. Chegou o grande dia e depois de uma pequena confusão com os bilhetes, lá surgiu a oportunidade de poder entrar no velhinho pavilhão do Espinho. Pavilhão a abarrotar, nem um único lugar livre sentado para ver o jogo, e foi conseguir arranjar um lugar para conseguir espreitar a pé para o campo. Do lado de lá, nos adeptos e jogadores espinhenses, sentia-se uma arrogância de quem julgava ser o jogo apenas uma mera confirmação da conquista do tri. Do lado do Vitória, rostos cerrados, mas tremendamente concentrados.

As recordações são difusas, mas com a ajuda do fórum da AVS é possível reconstituir o jogo. Começa o primeiro set e o Vitória chega ao primeiro tempo técnico na frente, ganhando por 6-8 (para simplificar, colocarei sempre o resultado com os pontos do Espinho primeiro - jogou em casa - e depois os do Vitória). O jogo mantém-se equilibrado e o segundo tempo técnico chega com o Vitória novamente na frente por 14-16. Notava-se que o Vitória estava mentalmente forte e que a equipa acreditava em si. Nas bancadas, embora em clara minoria, os vitorianos já se faziam ouvir. O jogo continua equilbrado até ao 15-17 a nosso favor mas aí o Vitória "dispara no marcador". Com Azenha a servir chegamos ao 15-20. Os adeptos do Vitória apoiavam e faziam-se ouvir cada vez mais. E foi só gerir a vantagem e fechar o primeiro set num serviço forte de Hugo Gaspar. Primeiro set estava ganho com 18-25 a nosso favor e estava quebrado o gelo e a incógnita de como o Vitória iria estar no jogo. Estávamos na luta! E mais concentrados e determinados que nunca!

Segundo set começa mal com um parcial de 3-0 para o Espinho. A vantagem mantém até ao 5-2 a favor deles mas o Vitória reduz para 5-4. O Espinho volta a recuperar e chega ao primeiro tempo técnico a vencer por 8-6. Mas o Vitória mostra que está muito sólido e vira o jogo para 12-14. Continuamos sempre na frente até chegar à vantagem num período crucial, com 18-21. Conseguimos chegar a 20-22 mas depois o Espinho chega a 24-24, na sequência de dois pontos até polémicos (o último dos quais num bloco espinhense com a bola a parecer que saiu mas com os árbitros a considerarem dentro). E com essa "embalagem" fecha o set a 26-24. Estava agora 1-1 em sets com o pavilhão ao rubro pela recuperação.

Como iria o Vitória reagir? Tínhamos entrado bem e mostrado atitude, podíamos ter ganho o segundo set, mas pairava a dúvida se iríamos aguentar a reacção e moralização espinhense. Mas o jogo continuou como sempre! Um serviço forte e colocado em conjunto com um Flávio Cruz muito inspirado mantiveram-nos sempre na frente, dominando o encontro. O resultado foi evoluindo sempre a nosso favor (6-8, 11-14, 13-16). Nessa altura notavam-se já semblantes carregados nos jogadores espinhenses, particularmente em Roberto Reis, um jogador que sempre sente quando as coisas não correm bem. Os adeptos espinhenses estavam já muito mais silenciosos e em oposição do lado vitoriano cada vez se acreditava mais. O Vitória entra novamente a matar e aumenta a vantagem para 13-18 e depois gere a vantagem (15-20, 18-22, 20-24), terminando a vencer justamente o set por 21-25. Era o delírio nas hostes vitorianas, com o sonho a um set, e o desânimo nas hostes espinhenses, que apesar de saberem que o jogo não terminara, viam um Vitória mandão, que nunca perdeu o controle do jogo.

Começava o quarto set, o set de todas as decisões, e o Vitória, como no resto do jogo, entra a dominar. Apesar disso, o Espinho ainda chega a 7-6, mas o Vitória vira e o tempo técnico chega conosco à frente (7-8). Foi uma viragem essencial e a partir daí não mais o Espinho conseguiu estar na frente do marcador. Com os adeptos do Espinho calados (o speaker bem os tentava puxar) e com os gritos de apoio ao Vitória bem audíveis, o jogo vai prosseguindo. 11-13, 12-15, 14-16, 16-17. O título a 8 pontos e o Espinho a aproximar-se. Mas aí temos o arranque definitivo! Com Alan no serviço chegamos ao 16-20. Era já um ambiente de euforia nos nossos adeptos. O título estava ali ao nosso alcance e a equipa não dava sinal de nervosismo! A partir desse 20, as recordações são para mim etéreas. Um misto difuso que sobrevoou o meu consciente e subconsciente! Não me consigo recordar com exactidão como foram os pontos. Só sei que gritei, sofri, emocionei-me e com os 24 as lágrimas espreitavam já pelos meus olhos. E chega a tão desejada explosão: 22-25!!!! O Vitória era campeão! Lágrimas, coração apertado, voz embargada e uma imensa, avassaladora, tremenda e inolvidável sensação de contentamento e de alegria! Campeões, Campeões! Nós somos Campeões!!!

Depois foi festejar, saborear com o resto dos adeptos e com os jogadores esse momento único. Todos os cânticos, os saltos, o poder finalmente libertar tudo aquilo que ia dentro da alma. E logo em Espinho! O título, o caneco, aquilo que tanto desejávamos, era nosso! Vitória Campeão Nacional! Três palavras que em conjunto formam a mais linda expressão do mundo...

Tentando pensar agora friamente, o Vitória fez realmente um jogo fantástico. Na defesa estivemos bem, com Filipe Cruz em alto nível. Na distribuição Azenha esteve imperial e variou bem o jogo. Repara-se na distribuição muito boa dos nossos pontos: H. Gaspar (19), Flávio Cruz (13), Nélson Brízida (13), Ildnei Oliveira (10), Allan Cocato (7) e P. Azenha (4). No centro da rede, Allan foi referência importante, um farol anímico da equipa. E o bloco funcionou a bom nível. No ataque, Hugo Gaspar esteve ao seu nível (excelente) e Flávio Cruz voltou a jogar o que sabe, com uma força impressionante nos remates (bem como Brízida). Foi uma equipa forte no seu todo, sem grandes pontos fracos. Notava-se que acreditava e que mesmo quando o Espinho pontuava não eram pontos fáceis. E foi uma equipa que se manteve imperturbável perante o ambiente hostil. Teve fé em si mesma e "tocou" o céu depois de um percurso até ao título que a todos os níveis foi excepcional e quase milagroso (relembro que estivemos a um set de perder a meia-final na Luz e depois estivemos a um set de perder a final em Guimarães, e em ambos os casos viramos de 0-2 para 3-2 a nosso favor).

Uma última palavra para o treinador Marco Queiroga. Muitas vezes contestado, teve o seu dia. Esteve muito bem na gestão dos tempos técnicos e não só e mostrou que sabe unir a equipa. Eu próprio, que sempre acreditei nele (quando muitos já não) tinha quase perdido a fé este ano e também estava a "passar para o outro lado". Felizmente para todos nós, o Marco deu uma prova imensa e em grande estilo, aconteça o que acontecer no futuro, ficará com o seu nome gravado e associado a um dos maiores feitos do nosso Vitória.

Já falei demais e duvido que alguém tenha tido a paciência para aturar uma crónica tão longa, mas este é sem dúvida um dia que me ficará gravado para sempre na memória. O primeiro é sempre especial e presenciado ao vivo... meus amigos... é demais! Não é para provocar inveja a quem não foi, mas é mesmo indescritível estar presente num momento tão bom, tão saboroso, tão especial!!! Com tanta emoção, nem me consegui lembrar de tirar mais fotos e/ou vídeos. Eu bem tentei filmar o último ponto, mas não fui capaz. Tinha de sorver todos aqueles momentos para poder fazer crescer ainda mais o ego vitoriano, para poder fazer inundar a alma com uma felicidade que só quem é vitoriano consegue compreender.

No final não pude ir a Guimarães, mas ainda consegui acompanhar o autocarro da equipa até Famalicão. E ter estado lá... isso ninguém me tira! Vitóóóóóóóóóóóóóória!!!!

Obrigado, do fundo do coração, a todos os que tornaram este grande, enormíssimo êxito possível. Obrigado campeões!

PS - Este ano está finalmente quebrado estigma de falhar eternamente nos momentos decisivos. Taça de Portugal em Basquetebol, Campeonato Nacional em Voleibol e sabe-se lá o que vem a seguir no futebol. "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce." E todos nós acreditamos num futuro risonho para o nosso Vitória. E desculpem-me a ousadia... mas bem merecemos!!!!

1 remate(s):

Anônimo disse...

Pedro, grande relato do que se passou!
Foi bonito realmente ouvir os vitorianos no pavilhão de espinho, muitas vezes sobrepondo-se à maioria. (isto enquanto houve luta, porque a partir de certa altura a festa era nossa).

Tive pena de não ter ido ao jogo, mas pelo menos consegui vitoriar a equipa no pavilhão.

Pelas fotografias e por outros relatos que já ouvi, concluí que o cortejo desde espinho até ao pavilhão foi outro espectáculo!!

Enfim, foi o libertar de algumas frustrações acumuladas!
mas valeu a pena!!!!!